Em
todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à
morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros,
quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de
angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que
as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis
ao mais perspicaz.
Estas coisas são materialmente impossíveis de
serem ditas.
A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a
garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons
para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que
mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar.
Daqui
os «isolados» que todos nós, os homens, somos.
Duas almas que se
compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente
tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia
em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu
tenho a certeza que se fundiriam numa só.
E os corpos morreriam.
Mário
de Sá-Carneiro