sexta-feira, 4 de março de 2016

Ante o silêncio

Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia Mello B Andresen

5 comentários:

  1. profundamente belo e triste... como se fosse possível!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por vezes os ausentes são os mais presentes!
      Escura está a noite neste semblante, mas alegra-me o coração e a alma saber-te presente.
      Fui tentar dormir.
      Beijo:))

      Eliminar
  2. Que belo poema da Sophia.
    Que bom partilhares, Semblante!

    ResponderEliminar
  3. A ausência magoa.

    Deixo um beijo nesse teu coração, Semblante.

    ResponderEliminar
  4. Há ausências que nos matam por dentro.

    Beijos, Helena :)

    ResponderEliminar