Noites
sem sexo são perfeitas, também: janelas entreabertas, sombras que
passam na rua através das horas, relâmpagos que não chegam a
iluminar as paredes do quarto. Românticos que se encontram depois de
viver vidas paralelas, cansados – mas enlaçados antes que chegue a
hora de partir, sem saberem se amanhã há outro sono igual, ou uma
escolha para fazer. Os dois sabem que são doidos, estendem os dedos
na escuridão entre as luas. Os dois sabem que mais adiante podem
arder de repente no meio do Verão, consumidos pelos segredos e pela
indiferença. Noites sem sexo são perfeitas, também; e raras, e
condenadas e incompletas. Borboletas no estômago, batendo asas
contra todas as paredes do corpo – não deixando que ele adormeça,
inquieto e insatisfeito, voltado para dentro e para o passado.
Românticos que se encontram quando nenhum deles esperava outra
oportunidade, outro caminho. Nunca estamos preparados, diz um. Nunca
estamos, repete o outro, quando a primeira borboleta sossega depois
de um beijo em dívida.
Francisco
José Viegas
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