Não há motivo para te importunar a meio da noite,
como não há leite no frigorífico, nem um limite
traçado para a solidão doméstica.
Tudo desaparece. Nada desaparece. Tudo desaparece
antes de ser dito e tu queres dormir descansada.
Tens direito a um subsídio de paz.
Se eu escrever um poema, esse não é motivo para te
importunar. Eu escrevo muitos poemas e tu trabalhas
de manhã cedo.
Toda a gente sabe que a noite é longa. Não tenho o
o direito de telefonar para te dizer isso, apesar dessa
evidência me matar agora.
E morro, mas não morro. Se morresse, perguntavas:
porque não me telefonaste? Se telefonasse, perguntavas:
sabes que horas são?
Ou não atendias. E eu ficava aqui. Com a noite ainda
mais comprida, com a insónia, com as palavras
a despegarem-se dos pesadelos.
José Luís Peixoto
Agora lembrei que se pode ser preso por ter cão, e por não o ter :=)
ResponderEliminaresse nã sabe o que diz... é claro que ligando no meio da noite, só há uma pergunta que se coloca: estás bem?
ResponderEliminarHá telefonemas e telefonemas
ResponderEliminarHá horas e horas
Mas o telefone na hora H
ou o telefone na hora Y
tem sempre o seu Q...
Quest...