sábado, 5 de setembro de 2015

Uma tristeza parada na tonalidade do silêncio

Fica comigo. Daqui a nada é noite e as noites custam, a mim custam, sobretudo quando os candeeiros da rua se acendem e as árvores e os prédios fronteiros logo diferentes, quase ninguém na rua, um miúdo com um cão lá ao fundo, uma tristeza parada na tonalidade do silêncio, estes móveis e estes retratos que não me ligam nenhuma, os teus passos na escada, tu no passeio: nem vou à janela olhar, não quero olhar. 
Fica comigo só mais um bocadinho, dez minutos, meia hora, sei lá, o tempo inteiro. Mesmo que não fales. Mesmo que leias a revista do jornal. 
Mesmo que não me toques. Mesmo como se eu não existisse. 
Há alturas, imagina, em que penso que não existo e depois vem a aflição, o medo, o meu pulso tão rápido, a voz da minha mãe, do fundo da infância.


António Lobo Antunes

7 comentários:

  1. Às vezes basta sentir a presença...

    Beijos, SD. :)

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  2. Uma tristeza parada no medo de ficar só...

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  3. Um trecho tão bonito. Um pedido. Em palavras ou em pensamentos?

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  4. Curiosidade...
    Como a nossa inexistência
    Faz lembrar a nossa existência...

    Muitos foram os abraços que pedi
    O tempo pouco que desejei
    E o querer saber de ti também...

    Quest...

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  5. Há presenças silenciosas que são mais preciosas do que abraços.
    :)

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  6. As feriazitas, foram boas? Espero bem que sim!
    :)))

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