O
amor também é isto. Ainda não percebeste, propriamente, o que isto
é. Vamos lá aos factos. Sabes, apenas, com toda a certeza convicta,
assertiva e afirmativa, que nunca será a mulher que, na noite do
primeiro encontro, tenta obrigar-te a despejar o cinzeiro do carro
por lhe fazer impressão as beatas.
O
amor estará mais próximo de uma caixa de supermercado, e da
funcionária que te pergunta
“vai
desejar-me?”.
E,
então, esbugalhas os olhos, dás dois passos atrás e ainda deixas
cair as compras. A fila vai longa, mas és só tu e ela naquele
expediente. Enches o peito com três respirações e respondes que
sim. Respondes que sim, no mais estridente sim que alguma vez
gritaste na vida. O amor também é isto, dizeres que sim e receberes
um saco em troca. No amor, às vezes, há traição, até na retórica
de supermercado.
No
amor precisas de credencial para entrar. Ou então compras bilhete e
aplaudes da bancada.
O
amor também é isto: escreveres coisas parvas como esta e, mesmo
assim, fazer o outro sorrir. E chegares à conclusão de que o amor
só sobrevive na parvoíce. Até mesmo quando, num estádio de
futebol, enches o peito com três respirações e aproveitas o
intervalo para avançares com um esquema táctico
para a adepta do lado (que até tem corpo de ginásio, cabelos pretos
compridos, olhos verdes, top cor-de-rosa, e calças pretas de
cabedal, justinhas no rabiosque, como tu gostas), mesmo que a única
conversa em comum tenha sido insultar o árbitro e criticar as opções
do treinador.
“Quero
amar-te em ataque continuado.
Podíamos
fazer uma transição rápida e depois vermos a segunda parte juntos,
o que te parece?”
O
amor, às vezes, também é isto, levares um tabefe e veres a tua
equipa a marcar um auto golo. Amar é, também, acreditar no
poliamor. É acreditares que é possível amar toda gente sem amar
ninguém.
E
é estares à porta de casa, dentro de um carro de alguém, a sentir
palpitações e acreditares que é por estares feliz; acreditares
que, se o amor não existir, tem de ser reinventado.E
então sais para a rua, e só tens vontade de repetir o que acabaste
de inventar.Se
o amor não existir, tem de ser reinventado.O
amor reinventa-se quando adormecem os dois num sinal vermelho.O
amor reinventa-se quando pões o mundo inteiro a buzinar para ti e
para ela.É
a altura em que voltas a entrar no carro, enches o peito com três
respirações,e
te declaras em total liberdade.
Com
tanta liberdade, que até os gases parecem cheirar a Armani.
É
quando ela te diz: o amor também é isto. Percebeste agora?
RMMendonça
O amor não é a perfeição, mas sim a aceitação.
ResponderEliminarAmar é saber integrar a sujidade, o desequilíbrio, o desalinho.
Bom fim-de-semana!
Beijo, SD.
Percebo :)
ResponderEliminaro vai desejar saco é tramado...
ResponderEliminarDesejar já é tramado, mesmo sem saco...
Eliminar… não, ainda percebi… mas é uma excelente tentativa de explicação! ;)
ResponderEliminarBeijinho,
FATifer
Estou cada vez mais apaixonado pela tua forma de escrever...
ResponderEliminarUm beijinho doce!