quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Noites Tamanhas




- A esta hora, mãe, toda a gente está para aí a reinar, e a comer ricas comidas.


  Se a gente fôssemos ricos! 

- Não é verdade, mãe? Não é verdade? 

Tardes vazias, Noites tamanhas.

HHoje

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sentido do H

Também adoro escapulir-me ao apertado espartilho da Gramática


   Hoje com dois HH é genial! 

e consequentemente vive-se o presente mais intensamente
do que nunca.
HHoje

domingo, 11 de dezembro de 2011

A minha casa é a minha alma.

Ouvi a chuva cair, levantei-me e fui ver,
batia com tanta força na vidraça,
parecia que me queria levar consigo.

Pensei: a minha casa protege-me;
os minutos pesaram em mim.

Lá fora, os passos apressados de quem foge do tempo.
Passeios molhados, guarda-chuvas partidos.

E a noite cai sobre esta cidade vazia.

HHoje

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um dia diferente.

Hoje acordei diferente, alguma coisa mudou em mim.
Um
misto de esperança, força de vontade e querer tomaram conta de mim.

Existe um espaço que estava por preencher e de repente se instalou.
Tento segurar a corda com toda a força que tenho, mostrar a mim mesma que  sou capaz de lutar por conquistar a minha auto estima à tanto perdida.
Será apenas fogaça do momento ou estarei a mudar para melhor. Tento manter essa ideia para impedir o desânimo que tenho vivido.
Agora que penso nas injustiças que me foram feitas, não guardo rancor nem despeito, pois nada disso alimenta o espírito.
Seguro na minha mão como se fosse a de um amigo e ganho força para dar mais um passinho, por mais pequeno que seja, estava retraída ao não querer escrever sobre o que estou a passar, mas ao não ter com quem falar sobre as coisas mais intimas, falo comigo mesma à procura de um caminho, onde encontre paz, harmonia e talvez venha a aprender a saber quem sou.
Digo isto porque estou perdida, estou exausta e não encontro a estrada do que quero para mim.
Hoje acordei diferente, e reconheço que tenho errado muito, a concha fechou-se completamente ao logo dos anos, isolei-me de tudo e de todos, fechei-me e só agora à distância reconheço o quanto estou diferente do que era, tranquila, boa ouvinte e quem sabe conselheira, hoje não sou assim, estou indiferente, isolada e fria comigo.
Perdi um Amor maior, terei de saber lidar com esse sentimento, não soubemos fazer as cedências no devido momento, nem tão pouco falar sobre elas e enfrentar com naturalidade essas barreiras, que ao longo de um casamento se nos deparam, se não alimentarmos o Amor, ele é como uma flor, vai secando, fica árido e distante do nosso dia a dia, que não pára.
Justificar o injustificável não é de nada fácil e muito menos racional ou premeditado, pois temos as nossas impressões digitais espalhadas por toda uma vida em comum, dona do nosso ser tudo o que pensamos ser o correto e de repente não é nada disso, estamos equivocados e ficamos perdidos no espaço que é a nossa realidade,  ficamos confusos.
A separação é uma das hipóteses para nos fazer voltar ao que realmente somos. Inevitavelmente um turbilhão de pensamentos, de vivências passadas assaltam e questionam o que fizemos até aqui, se agimos da melhor forma, se tomamos o caminho mais certo para nós, enfim se fizemos o certo, se sobrevalorizamos demasiado o outro e erramos.
Não paro de me perguntar se a minha vida teria sido diferente se tivesse amado outra pessoa. Se nos últimos anos a felicidade me passou ao lado, e eu estava cega e não vi isso. Se o medo me assaltou e eu recusei agir e mudar a minha vida.
A casa tornou-se num sítio estranho e distante, à qual eu só vinha dormir e proteger-me do frio. Tudo neste momento está em causa e confuso. Sinto, apesar de tudo isto a tua falta, a tua protecção, a tua presença.
Dizem-me que tudo está mais calmo e tranquilo aqui agora, mas não é isso que eu sinto, nem tão pouco o que quero.
Quero sair, viver, sentir um pouco de liberdade, não estar automatizada, quero falar, falar por falar, mas falar e sentir que sou escutada, que alguém me ouve e entende.
Preciso de sentir o outro lado, preciso de me conhecer.
Não tenho falsas doenças, nem falsos sentimentos, nem quero.
Encaro o que sou com naturalidade e respeito.
HHoje 2009

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A aliança da Maria-Mole

Acordo com suores frios

Sobressaltada, num pesadelo tão real que me assusta.

Fantasmas do passado,

Máscaras grotescas, sem feições definidas.

Monstros,

esgares de dor lancinante

como um dia senti

num silêncio sofrido e longo.

Hoje já não.

Usufruo plenamente da sensação

de aqui estar,

num azul perfeito.


HHoje 2010

sábado, 5 de novembro de 2011

advérbio: helenamente

LINDO! E lembra-me alguém muito muito especial :)

Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente A maneira mais triste de se estar contente a de estar mais sozinho em meio de mais gente de mais tarde saber alguma coisa antecipadamente Emotiva atitude de quem age friamente inalterável forma de se ser sempre diferente ...maneira mais complexa de viver mais simplesmente de ser-se o mesmo sempre e ser surpreendente de estar num sítio tanto mais se mais ausente e mais ausente estar se mais presente de mais perto se estar se mais distante de sentir mais o frio em tempo quente O modo mais saudável de se estar doente de se ser verdadeiro e revelar-se que se mente de mentir muito verdadeiramente de dizer a verdade falsamente de se mostrar profundo superficialmente de ser-se o mais real sendo aparente de menos agredir mais agressivamente de ser-se singular se mais corrente e mais contraditório quanto mais coerente A via enviesada para ir-se em frente a treda actuação de quem actua lealmente e é tão impassível como comovente O modo mais precário de ser mais permanente de tentar tanto mais quanto menos se tente de ser pacífico e ao mesmo tempo combatente de estar mais no passado se mais no presente de não se ter ninguém e ter em cada homem um parente de ser tão insensível como quem mais sente de melhor se curvar se altivamente de perder a cabeça mas serenamente de tudo perdoar e todos justiçar dente por dente de tanto desistir e de ser tão constante de articular melhor sendo menos fluente e fazer maior mal quando se está mais inocente É sob aspecto frágil revelar-se resistente é para interessar-se ser indiferente Quando helena recusa é que consente se tão pouco perdoa é por ser indulgente baixa os olhos se quer ser insolente Ninguém é tão inconscientemente consciente tão inconsequentemente consequente Se em tantos dons abunda é por ser indigente e só convence assim por não ser muito convincente e melhor fundamenta o mais insubsistente Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente O mar a terra o fumo a pedra simultaneamente.

Ruy Belo, Transporte no Tempo