quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Reality?

Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz. 
Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. 
A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. 
Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. 
Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. 
E os corpos morreriam.


Mário de Sá-Carneiro

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Talvez sem mais

Uma cortina desceu sobre o meu olhar,
sobre a minha Alma.
Se me virem assim neste segundo acto,
carrego um peso sem espaço
onde adormeço.
Uma ilha sem lugar que me pertença.
É tão fácil gostar de ti... disseste
Assombração sem revelação.
Traz-me o chão.
HHoje 

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Novembro

"(...) o hábito precoce da solidão é um bem infinito. 
Ensina-nos, apenas em parte, a não precisar das pessoas. 
Ensina-nos também a amar mais os seres."
Marguerite Yourcenar