quarta-feira, 26 de agosto de 2015

HHoje

 Hoje com dois hh é genial! 

Também adoro escapulir-me ao apertado espartilho da Gramática. 

Levo comigo uma menina perdida e vou ver o mar por uns dias.
Fiquem bem.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Trazemos na Alma uma Bomba


A causa depois do efeito. A minha tese é esta, minha querida – nós trazemos na alma uma bomba e o problema está em alguém fazer lume para a rebentar. Nós escolhemos ser santos ou heróis ou traidores ou cobardes e assim. 
O problema está em vir a haver ou não uma oportunidade para isso se manifestar. 
Nós fizemos uma escolha na eternidade. Mas quantos sabem o que escolheram? 
Alguns têm a sorte ou a desgraça de alguém fazer lume para rebentarem o que são, ver-se o que estava por baixo do que estava por cima. Mas outros vão para a cova na ignorância. 
Às vezes fazem ensaios porque a pressão interior é muito forte. 
Ou passam a vida à espera de um sinal, um indício elucidativo. Ou passam-na sem saberem que trazem a bomba na alma que às vezes ainda rebenta, mesmo já no cemitério. 
Ou quem diz bomba diz por exemplo uma flor para pormos num sorriso. 
Ou um penso para pormos num lanho. Mas não sabem. 
Agora pergunto – se escolheram a maldição e alguém faz lume, quem é culpado de ela rebentar? 
Como é que um tipo é culpado de trazer uma bomba na alma se foi outro que a fez explodir? 
E como é que é culpado o tipo que fez o lume, se a bomba não era dele?


Vergílio Ferreira

sábado, 22 de agosto de 2015

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Linhas do Tempo


 Fotografar, é colocar na mesma linha, a cabeça, o olho e o coração.

As coisas das quais nos ocupamos, na fotografia, estão em constante desaparecimento e, uma vez consumado, não dispomos de qualquer recurso capaz de fazê-las reaparecer.
Henry Cartier-Bresson

Fotos obtidas na net, desconheço autores

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Estranha vontade


"Às vezes a realidade é muito melhor do que nos atrevemos a sonhar. 
No entanto, primeiro temos de fazer o caminho do medo e desilusão, 
o que nos permitirá voar em liberdade, sem olhar para trás, 
confiando apenas no instinto mágico e na certeza da alma. 

Deste modo, num dia de amanhecer sublime, 
seremos capazes de desfrutar dessa realidade sonhada. 

Sonhar que voar em liberdade é construir o nosso destino. 

 Sonhar é dar voz à alma e permitir o canto da vida."



sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Ex Triste_mente

Temos de lidar, cada dia, com muitas pessoas.
Acontece, que de entre essas pessoas encontramos algumas que nos dão vontade de fazer as malas e partir....para longe da atmosfera que elas nos criam.
É triste verificá-lo, mas a verdade é que há pessoas que se comprazem na má disposição, e têm por isso, o talento em criar má disposição em quem não a tem.
Que pensem nisto os que sorriem com dificuldade e que se empenham em fazer morrer o sorriso nos lábios dos outros.
Que pensem, e levem a efeito, se puderem, esse esforço indispensável.

Realmente, ser treva quando se pode ser Luz.
É uma triste escolha.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Mãos impregnadas de nuvens, prometes?


Tu, que não conheço ainda, ou imagino que não conheço, ajuda-me a ficar. 
Ocupo pouco espaço, quase não faço barulho, nunca grito, não incomodo ninguém. 
Leva-me contigo e ajuda-me a ficar. Tenho a ternura simples mas aos nós. 
Como as tuas unhas são mais compridas do que as minhas desata-me isto tudo. 
Mãos impregnadas de nuvens, ossos suaves como o leite, vagarosos, certeiros. 
É bom nascer no instante em que o ar é mais frio do que a água. 
Trouxe-o aqui no bolso para ti. 
Há-de haver, nalgum sítio, a minha última casa. 

António Lobo Antunes 

sábado, 8 de agosto de 2015

Equações da lógica

Ele não apareceu.
Talvez tenha adoecido ou ficado debaixo de um eléctrico. 
Talvez outra pessoa se pusesse na conversa com ele.
Talvez se tenha esquecido do relógio,
ou o relógio se tenha esquecido de lhe dar o tempo certo.
Talvez o carro não pegasse,
ou tenha ficado avariado a meio do caminho.
Talvez alguém lhe telefonasse quando ia a sair de casa,
dizendo-lhe que tinha de ir a um funeral
ou que a mãe dele tinha morrido.
Talvez tenha encontrado um antigo conhecido.
Talvez tenha tido uma discussão no emprego,
tenha sido despedido e esteja a esconder
a cabeça debaixo de uma almofada.
Talvez a ponte estivesse fechada e
a seguinte também.
Talvez o semáforo permanecesse vermelho.
Talvez o multibanco tenha engolido o cartão
ou a meio do caminho tenha reparado que se esquecera
do porta-moedas.
Talvez tenha perdido os óculos,
não conseguisse deixar de ler,
houvesse um programa que ele queria acabar de ver,
não conseguisse dar a volta à fechadura da porta,
não encontrasse as chaves em sítio nenhum e
o cão dele de repente começasse a vomitar.
Talvez não houvesse um telefone por perto,
não encontrasse o restaurante
ou esteja à espera noutro sítio, por engano.
Talvez – a última possibilidade,
incompreensível e inesperada –
ele tenha deixado de me amar.


 Hagar Peeters

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ana


Meu coração e eu
vivemos juntos
mas não lado a lado
e nunca nos vemos
o sangue é um acordo vivo
que nos ata

Ana Hatherly
                                                                                     1929-2015.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Prece

Hoje dói-me pensar,
dói-me a mão com que escrevo,
dói-me a palavra que ontem disse
e também a que não disse,
dói-me o mundo.

Há dias que são como espaços preparados
para que tudo doa.

Só deus não me dói hoje.
Será porque ele não existe?


Roberto Juarroz

sábado, 1 de agosto de 2015

Sal_picos concretos

Veloz vai o comboio onde viajo agora sem medo.
Concreta, entre a maresia que me corre nas veias,
leio a história de anos que me escreves.
Amor sublime, etéreo,
não possível neste nosso tempo de vidas trocadas.
Como foi acontecer tão profundo,
feito apenas de realidade?
Partes agora para um destino diferente,  seguro e sábio
com o que dizes te ensinei, sobre a dor, a vida.
Percorre-te o sentimento de homem completo,
nunca antes revelado em ti.
A falta de coragem, tolheu-te a escolha, dizes.
Acredito, fechou-se um ciclo.
Somos apenas dois concretos desalinhados no tempo.


HHoje 2013