quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Uma escala de valores




Seja genuíno até à medula.

Noutros casos, use os pneus como objectos decorativos na sua vida.

Use como colar, como sofá, qualquer coisa.

Mas há uma coisa que nunca devemos esquecer:

Quando nos encontramos frente a frente com o nosso destino, 

uma campainha toca dentro de nós.

Pode ser que se trate dum estranho mas insistente formigueiro 

no coração,

Ou uma escala de valores...

Um bom ano de 2016

HHoje 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Há noites assim

Assoam-se-me à alma,
quem como eu traz desfraldado o coração
sabe o que querem dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.

Luís Miguel Nava

domingo, 20 de dezembro de 2015

Flor brava

Olha para mim e não te admires 
Não esperes que procure caminho
Não quero caminho.

Quero vento e brisa que me leve 
Porque perder-te foi o melhor que me aconteceu. 

Nem a lua nem o solstício me prendem. 
Sou uma Flor brava e feliz.
HHoje 

sábado, 19 de dezembro de 2015

Semblante de Natal

Que os sonhos, a magia e o Natal se cumpram todo o ano.

É o meu desejo para todos os amigos.

HHoje

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O tempo esse grande escultor

Assim, tu partes. Na minha idade já não se dá importância a uma separação, mesmo que definitiva.
Eu bem sei que os seres que amamos e que nos amam mais se vão separando insensivelmente de nós a cada momento que passa.
É também deste modo que se vão separando de si próprios.
Estás sentado sobre essa pedra e julgas-te ainda aí, mas o teu ser,
voltado para o futuro, não adere mais ao que foi a tua vida,
e a tua ausência já começou.
É certo que compreendo que tudo isto é ilusão, como o resto, e que o futuro não existe.
Os homens que inventaram o tempo, inventaram por contraste a eternidade,
mas a negação do tempo é tão vã como ele próprio.
Não há nem passado nem futuro mas apenas uma série de presentes sucessivos,
um caminho perpetuamente destruído e continuado onde todos vamos avançando.

Marguerite Yourcenar
8 de Junho de 1903 — 17 de Dezembro de 1987

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Criações inesperadas do universo



A quantidade de vezes que o mundo se prenuncia e depois se recolhe em silêncio.

Há uma musicalidade que germina.

Não ouves? Ainda não ouves.


Por estranho que te pareça,

poderá vir o dia em que escutarás o uivar dos pássaros.


São as criações inesperadas do universo.

Zuraida Guedes


Pintura de Laurie Kaplowitz

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Words


A noite que me espera, 
Não me espera desta maneira. 

Senta-te, senta-te comigo por favor.... 
E, eu terei sonhado contigo. 

E, eu serei mais... 

HHoje 


domingo, 13 de dezembro de 2015

Si...


Si le hubiera cortado las alas 
habría sido mío, 
no habria escapado. 
Pero así, 
habría dejado de ser pájaro. 
Y yo… 
yo lo que amaba era el pájaro. 


Mikel Laoba.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Filosofia da água

No café trazem-me um copo com água
como se ele resolvesse todos os meus problemas.
É ridículo – penso – não há saída.
No entanto, depois de beber a água
fico sem sede.
E a sensação exclusiva do organismo
acalma-me por momentos.
Como eles sabem de filosofia – penso –


GMT

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

19,39 pm, Inverno

No Inverno,
quando mais rareia a esperança.
São certas fixações da consciência,
coisas que andam pela casa à procura de um lugar
e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia da água,
a faca suja de manteiga na toalha,
esse trilho que deixamos atrás de nós
e se decifra sem esforço nem proveito.
É a espera e a demora.
São as ruas sossegadas à hora do telejornal
e os talheres da vizinhança a retinir.
É a deriva nocturna da memória:
é o medo de termos perdido sem querer
a nossa vez.

Rui Pires Cabral

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Semblante de bolas de sabão


Creio que aqueles que mais entendem de felicidade 
são as borboletas e as bolas de sabão...
Ver girar essas pequenas almas 
leves, 
loucas, 
graciosas 
e que se movem,
é o que de mim, arrancam lágrimas e canções.


Nietszche

sábado, 5 de dezembro de 2015

Silêncio! Não consigo ouvir o vento.

Perdi-me no regresso
cruzei-me e descruzei-me.

Alcanço um abraço parado no tempo.

Respiro devagar
como quem o quer eternizar.

E nesse reencontro percebo que enfim,
nunca me tive neste caminho,
apenas um talvez sim.

Subitamente nunca me tive livre
bruscamente fiquei presa.

Helena acorda,

No fio da navalha
não há alma que te valha.

HHoje 2012

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Where did all this feelings come from?

Um poema não é uma coisa que se coloca sobre o teu dia como um condimento sobre o teu almoço.
A vida de uma pessoa não tem material semelhante a nada que conheças.
Existir é feito de peças impossíveis de copiar.
E a poesia não entra nesse material único - a vida de uma pessoa -
como o avião no ar ou o acidente do avião na terra dura. 
Um poema não é manso nem meigo,
não é mau nem ilegal.
Os homens não se medem pelos poemas que leram, mas talvez fosse melhor.
O que é a fita métrica comparada com algo intenso?
Há poemas que explicam trinta graus de uma vida e poemas que são um ofício de demolição completa:
o edifício é trocado por outro, como se um edifício fosse uma camisa.
Muda de vida ou, claro, muda de poema.

Gonçalo M.Tavares

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Há tanta solidão em quem repara

Na varanda esquecida
por trás de toda a magia da noite
(há tanta solidão em quem repara)
dura um homem que diz baixinho
assim quase para fora
A ferida por baixo da cicatriz
- quem cura?
Vasco Gato

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Do medo ou a explicação do vazio

É preciso não achar estranho o que não tem estranheza nenhuma, 
o melhor é a Verdade ! 

Pode ser desta caixa que deixei cair quando fui à pouco ao exterior. 
Devia ter um ar extraviado, mas certo, pois aconteceu-me qualquer coisa,
 já não posso duvidar ou então é o mundo que se inverteu.
 Agora, pergunto a mim própria, porquê? 
Queria ver claramente o que se passa comigo, antes que seja tarde. 
Arrastar-me para onde? 
Para o fundo, em direcção ao Medo!! 

Admiro-me como se pode mentir com a verdade na mão. 
São tudo hipóteses e deixo-me ficar sentada, de braços caídos, 
por vezes esboço algumas palavras, sem coragem bocejo e quando findar a noite sairei deste lugar vazio. 

Mais uns segundos, a voz desliza e desaparece, bastaria tão pouco para fazer parar a música ! 
Dêem-me licença de não partilhar da vossa opinião. 
Existem momentos em que pergunto 
se o Domingo afinal é deles e não meu. 
Três horas. 

Três horas é sempre tarde ou cedo para aquilo que queremos fazer. 

HHoje

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O que contém o sono


Às vezes choras.
Às vezes sais para o terraço ao frio que começa.
Não sabes o que contém o sono daquela que está na cama.
Tu, daquele corpo, querias partir, querias voltar a outros corpos,
ao teu corpo, voltar a ti mesmo
e ao mesmo tempo é por teres de fazer isso que choras.

Marguerite Duras

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Vade Mecum

De que me serviu ir correr mundo,
arrastar, de cidade em cidade, 
um amor que pesava mais do que mil malas; 
mostrar a mil homens o teu nome escrito em mil alfabetos 
e uma estampa do teu rosto que eu julgava feliz? 
De que me serviu recusar esses mil homens, 
e os outros mil que fizeram de tudo para parar-me, 
mil vezes me penteando as pregas do vestido cansado de viagens, 
ou dizendo o seu nome tão bonito em mil línguas 
que eu nunca entenderia? 
Porque era apenas atrás de ti que eu corria o mundo, 
era com a tua voz nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo
do amor de cidade em cidade, 
o teu nome nos meus lábios de cidade em cidade, 
o teu rosto nos meus olhos durante toda a viagem,
mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.


Maria do Rosário Pedreira

Não mais te devolvo

Vou buscar-te ao fim da tarde,
porque a noite só escurece 
contigo ao meu lado, 
porque a noite aprende por ti
o caminho aberto das estrelas
Não mais te devolvo
vou buscar-te ao fim da tarde,
e verás como preparei a casa, 
como escolhi a música, como, enfim, espalhei
os objectos mais impressionados contigo,
os que ganharam vida por se interporem
na espessura estreita que vai do meu
ao teu coração
e não mais te devolvo, correndo todos os
riscos de não amanhecer nunca
numa loucura propositada por ti
Não mais te devolvo,
ocuparás o mundo debaixo e sobre mim,
e não haverá mais mundo sem que seja assim
valter hugo mãe

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Semblante coragem

Esperava coragem,
Esperava voragem.

Nem coragem, nem voragem.
Quanto pesa a coragem?

A realidade embateu na expectativa
e esfumou-se em palavras !

Da melhor e assertiva forma foi revelada,
Sem olhares, sem contacto.
Do tempo perdido fica o melhor do pior,
do sentir que este dia nada colheu.

Parti hoje para nunca te responder.
Apenas ser uma palavra.


HHoje 2015

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Não cuspas cá para baixo

Do 
"assento etéreo" 
Vais olhar 
(não cuspas cá para baixo, por favor ! ) 
e saber 
que, 
matematicamente, 
ou melhor dizendo, 
poeticamente 
haverão milhares de combinações 
para as palavras, 
para as nossas palavras, 
para cinco palavras apenas ! 
para sete palavras apenas ! 
para um milhão de palavras apenas !

Mas nós sabemos 
que só tu 
consegues 
construir a "coisa lírica", 
o modo de sentir.

Aí, 
vais espalhar a tua arte 
por muitos mundos, pelos mundos 
onde passares.

Por isso, 
não nos preocupamos 
porque o que aí é dito, 
vai ser ouvido por nós, 
assim que aí chegarmos.

Muitos abraços, 
....daqui. 
(não cuspas cá para baixo).


MAN

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Ignorantes pânicos

Alguns ainda se iludem com adocicar o corpo, 
fazem-no em pânico ignorantes do
fermento que é para a alma,
ficam gordos
preparados para serem despojados
das carnes que inutilizaram,
e já os junto à terra como se evadidos para o pó,
criarem esperanças parvas nos outros


Valter Hugo Mãe

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Se me legasses as tuas mãos

Poderias mergulhar como um só bloco no nada para onde vão os mortos:
consolar-me-ia se me legasses as tuas mãos.
Apenas as tuas mãos subsistiriam, separadas de ti, inexplicáveis como as dos deuses de mármore que se tornam pó e cal dos seus próprios túmulos.
Elas sobreviveriam aos teus actos, aos miseráveis corpos que acariciaram.
Entre as coisas e ti, elas já não seriam intermediários: seriam elas próprias,
transformadas em coisas.
Voltando a ser inocentes, pois tu já lá não estarias para fazer delas tuas cúmplices, tristes como galgos sem dono, desconcertadas como arcanjos a quem já nenhum deus dá ordens, as tuas mãos vãs repousariam sobre os joelhos das trevas.
As tuas mãos abertas, incapazes de dar ou de agarrar qualquer alegria,
ter-me-iam deixado cair como uma boneca quebrada.
Beijo ao nível do pulso essas mãos indiferentes que a tua vontade já não afasta das minhas;
acaricio a artéria azul, a coluna de sangue que outrora, incessante como o jacto de uma fonte,
surgia do solo do teu coração.
Com pequenos soluços satisfeitos, encosto a cabeça como uma criança,
entre as palmas cheias de estrelas, de cruzes,
de precipícios daquilo que foi o meu destino.
MY

sábado, 31 de outubro de 2015

Todos os diabos se vão

Quando chegar ao fim desta jornada
dir-te-ei o quanto te enganas.
Todos os diabos se vão
Esses teus cadeados inúteis não me apavoram.
Não é natural
que tenha posto aranhas na pele
para depois sofrer.
E volto a adormecer na grande paisagem branca.
HHoje

A conversa de Bolzano

Ide à cidade e contai que cheguei, que estou aqui, que o espectáculo vai começar! 
Chegou, o cavaleiro das saias, o consolador das damas, o médico dos corações quebrados, que conhece segredos para os males do coração e os filtros secretos que se devem deitar na comida do amante desfalecente para que, à noite, ele se mostre de novo vivo e aprazível na cama!

Sándor Marái


domingo, 25 de outubro de 2015

Mãos feridas na porta dum silêncio



Vida que às costas me levas
porque não dás um corpo às tuas trevas?

Porque não dás um som àquela voz
que quer rasgar o teu silêncio em nós?

Porque não dás à pálpebra que pede
aquele olhar que em ti se perde?

Porque não dás vestidos à nudez
que só tu vês?



Natália Correia

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Somos a primeira pessoa do plural


Estamos tão perto uns dos outros. Somos contemporâneos, podemos juntar-nos na mesma frase, conjugarmo-nos no mesmo verbo e, no entanto, carregamos um invisível que nos afasta. 
Ouvimos os vizinhos de cima a arrastarem cadeiras, a atravessarem o corredor com sapatos de salto alto, a sua roupa molhada pinga sobre a nossa roupa a secar; ouvimos a voz dos vizinhos de baixo, dão gargalhadas, a nossa roupa molhada pinga sobre a roupa deles a secar; cheiramos as torradas dos vizinhos do lado, ouvimo-los a chamar o elevador e, no entanto, o nosso maior problema não é apenas não nos reconhecermos na rua. 
O nosso grande problema  é estarmos convencidos que os problemas deles não nos dizem respeito. 
A nossa tragédia é acharmos que não temos nada a ver com isso.


José Luís Peixoto