quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Mãos impregnadas de nuvens, prometes?


Tu, que não conheço ainda, ou imagino que não conheço, ajuda-me a ficar. 
Ocupo pouco espaço, quase não faço barulho, nunca grito, não incomodo ninguém. 
Leva-me contigo e ajuda-me a ficar. Tenho a ternura simples mas aos nós. 
Como as tuas unhas são mais compridas do que as minhas desata-me isto tudo. 
Mãos impregnadas de nuvens, ossos suaves como o leite, vagarosos, certeiros. 
É bom nascer no instante em que o ar é mais frio do que a água. 
Trouxe-o aqui no bolso para ti. 
Há-de haver, nalgum sítio, a minha última casa. 

António Lobo Antunes 

5 comentários:

  1. Que bonito, minha Amiga!
    Deixo um beijinho com muito carinho.

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    1. Obrigado, espero que tudo esteja bem contigo.
      Beijinho com carinho Sandra.:)

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  2. Muito bom!
    Há qualquer coisa que me faz associar este texto à fase em que ele esteve muito doente.. Mas pode não ser.
    Beijo.

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  3. Gosto demais da forma como ele escreve, faz-se entender lindamente, sem artifícios desnecessários, escreve a vida, os sentidos, os sentires, assim, no meu entender, escrevem os grandes.
    Abreijo em tu SD

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