terça-feira, 29 de setembro de 2015

Quase uma razão

Vejo-te um pouco como se já não houvesse uma casa para nós.
As grandes perguntas estão aí por todo o lado,
onde quer que se respire, dentro dos próprios frutos.
É o começo da noite e os cinzeiros já estão cheios de meias palavras:
porque escolhemos tão pouco aquilo que nos pertence?
Vejo-te de olhos fechados enquanto me confiavas a tua história
– à mesa da cozinha, quase um espelho,quase uma razão.
As minhas canções preferidas pareciam convergir para ti a certa altura, 
dir-se-ia que te vestias com elas.
E no entanto como se apressaram as grandes florestas a invadir as gavetas,
como misturaram as raízes no eco que fazia o teu desejo contra mim.

Rui Pires Cabral

2 comentários:

  1. Meu doce, sinto melancolia nas tuas palavras...
    Beijinho

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  2. De facto, "escolhemos tão pouco aquilo que nos pertence."
    E, às vezes, o "jogo" vira-se sem que tenhamos consciência das alterações que já andavam a minar.
    Obrigada pela partilha, SD!
    Foto muito bonita, também.
    Beijo.

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