sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Tenho sido vento estes dias

Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. 
Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares.
As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo.
Como sangue, somos lágrimas.
Como sangue, existimos dentro dos gestos.
As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos.
E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos.
O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado.
Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto.

José Luís Peixoto

2 comentários:

  1. Soube-me bem descansar a cabeça neste texto e reflectir.
    Bela partilha, SD.
    Beijos

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  2. Que seja um vento que despenteia. Ajuda a arejar a cabeça :)
    Bonita partilha :)
    Beijos

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