sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Quero amar-te em ataque continuado

O amor também é isto. Ainda não percebeste, propriamente, o que isto é. Vamos lá aos factos. Sabes, apenas, com toda a certeza convicta, assertiva e afirmativa, que nunca será a mulher que, na noite do primeiro encontro, tenta obrigar-te a despejar o cinzeiro do carro por lhe fazer impressão as beatas.
O amor estará mais próximo de uma caixa de supermercado, e da funcionária que te pergunta
“vai desejar-me?”.
E, então, esbugalhas os olhos, dás dois passos atrás e ainda deixas cair as compras. A fila vai longa, mas és só tu e ela naquele expediente. Enches o peito com três respirações e respondes que sim. Respondes que sim, no mais estridente sim que alguma vez gritaste na vida. O amor também é isto, dizeres que sim e receberes um saco em troca. No amor, às vezes, há traição, até na retórica de supermercado.
No amor precisas de credencial para entrar. Ou então compras bilhete e aplaudes da bancada.
O amor também é isto: escreveres coisas parvas como esta e, mesmo assim, fazer o outro sorrir. E chegares à conclusão de que o amor só sobrevive na parvoíce. Até mesmo quando, num estádio de futebol, enches o peito com três respirações e aproveitas o intervalo para avançares com um esquema táctico para a adepta do lado (que até tem corpo de ginásio, cabelos pretos compridos, olhos verdes, top cor-de-rosa, e calças pretas de cabedal, justinhas no rabiosque, como tu gostas), mesmo que a única conversa em comum tenha sido insultar o árbitro e criticar as opções do treinador.
“Quero amar-te em ataque continuado.
Podíamos fazer uma transição rápida e depois vermos a segunda parte juntos, o que te parece?”
O amor, às vezes, também é isto, levares um tabefe e veres a tua equipa a marcar um auto golo. Amar é, também, acreditar no poliamor. É acreditares que é possível amar toda gente sem amar ninguém.
E é estares à porta de casa, dentro de um carro de alguém, a sentir palpitações e acreditares que é por estares feliz; acreditares que, se o amor não existir, tem de ser reinventado.E então sais para a rua, e só tens vontade de repetir o que acabaste de inventar.Se o amor não existir, tem de ser reinventado.O amor reinventa-se quando adormecem os dois num sinal vermelho.O amor reinventa-se quando pões o mundo inteiro a buzinar para ti e para ela.É a altura em que voltas a entrar no carro, enches o peito com três respirações,e te declaras em total liberdade.
Com tanta liberdade, que até os gases parecem cheirar a Armani.
É quando ela te diz: o amor também é isto. Percebeste agora?

RMMendonça

6 comentários:

  1. O amor não é a perfeição, mas sim a aceitação.
    Amar é saber integrar a sujidade, o desequilíbrio, o desalinho.
    Bom fim-de-semana!
    Beijo, SD.

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  2. … não, ainda percebi… mas é uma excelente tentativa de explicação! ;)

    Beijinho,
    FATifer

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  3. Estou cada vez mais apaixonado pela tua forma de escrever...
    Um beijinho doce!

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