quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Somos a primeira pessoa do plural


Estamos tão perto uns dos outros. Somos contemporâneos, podemos juntar-nos na mesma frase, conjugarmo-nos no mesmo verbo e, no entanto, carregamos um invisível que nos afasta. 
Ouvimos os vizinhos de cima a arrastarem cadeiras, a atravessarem o corredor com sapatos de salto alto, a sua roupa molhada pinga sobre a nossa roupa a secar; ouvimos a voz dos vizinhos de baixo, dão gargalhadas, a nossa roupa molhada pinga sobre a roupa deles a secar; cheiramos as torradas dos vizinhos do lado, ouvimo-los a chamar o elevador e, no entanto, o nosso maior problema não é apenas não nos reconhecermos na rua. 
O nosso grande problema  é estarmos convencidos que os problemas deles não nos dizem respeito. 
A nossa tragédia é acharmos que não temos nada a ver com isso.


José Luís Peixoto

2 comentários:

  1. Muito bem analisado.
    [Muitas vezes, talvez estejamos tão longe de quem estamos perto porque eliminamos a distância necessária para nos podemos ver e sentir de alto abaixo. Nem tudo se vê melhor ao perto.]
    Beijo, Semblante.

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  2. O que está mais longe
    por vezes tornasse no que está mais perto...

    Basta querer para mudar...
    o sentir...
    o ouvir...

    Quest...

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